Fonte
da imagem: http://revistaregional.com.br/portal/?p=4116
Fábio
José Lourenço Bezerra
Reproduzimos
abaixo, na íntegra, um excelente artigo, publicado no site
“Plantando
Consciência” (www.plantandoconsciencia.org),
cujo autor é Eduardo
Ekman Schenberg,
Doutor
em Neurociências pela Universidade de São Paulo (USP), Mestre
em psicofarmacologia e biomédico pela Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP). O artigo é sobre
um manifesto, assinado por vários cientistas e publicado na revista
científica “Explore:
The Journal of Science and Healing”,
na edição Setembro-Outubro de 2014, contra a ideologia
materialista
que ainda impera no meio científico, apesar de várias experiências
realizadas terem demonstrado fortíssimas evidências da
espiritualidade.
MANIFESTO POR UMA CIÊNCIA PÓS-MATERIALISTA
“Nada
é mais curioso do que a satisfação dogmática com que a
humanidade, a cada período da história, celebra a ilusão de que os
modos de conhecimento que possui são definitivos”
Alfred
North Whitehead
Em
1962 o físico norte-americano Thomas Samuel Kuhn publicou um
livro que permanece até hoje como uma das obras primas da filosofia
da ciência: A estrutura das revoluções científicas. No livro, que
foi publicado mais de uma década após Kuhn começar a formular a
principal idéia, ele refutou a visão precedente de que a ciência
progredia de forma linear, através do acúmulo de novas evidências,
perpetuamente sendo usadas para refinar e ajustar as explicações
existentes dentro das teorias vigentes. Como ele deixa claríssimo no
livro, esta descrição do progresso científico serve apenas para
certos períodos do desenvolvimento científico, que ele batizou de
períodos de “ciência normal”. Mas em momentos raros a
visão científica de mundo havia sido completamente transformada por
novos dados e experimentos que contradiziam as teorias e modelos
vigentes. Esses períodos, geralmente de duração mais curta, ele
batizou de “ciência revolucionária”. Através de um
minucioso estudo da história e do ensino de ciências, Kuhn
demonstrou como a cada longo período de ciência normal formava-se o
que ele chamou de “paradigma”: um modelo ou teoria que
dita o que é possível e como o universo funciona. Durante os longos
períodos de ciência normal, o paradigma da vez vai sendo aceito por
um número cada vez maior de cientistas e passa a fortemente dominar
a visão de mundo por esse período. Nestas épocas, fatos e dados
que não se encaixam no paradigma vigente, ou mais importante ainda,
dados que contrariam o paradigma, tendem a ser rejeitados como erro,
falha ou fraude. Entretanto, com o passar do tempo essas evidências
também vão se acumulando, e aí então começam a gestar um novo
paradigma. Os períodos de coexistência e disputa entre dois
paradigmas Thomas Kuhn chamou de períodos de “crise
científica”. Uma das principais caraterísticas desses
períodos de crise é uma brutal oposição e competição entre os
envolvidos, sendo que ele chegou a sugerir que a imensa maioria dos
cientistas ao longo da história morreram apegados ao paradigma
predominante em suas épocas, sendo a nova geração apenas a capaz
de levar o campo adiante. As crises na história da ciência foram,
portanto, brutais, e levaram a revoluções impressionantes, que em
alguns casos mudaram por completo o estilo de vida da humanidade como
um todo. Nas palavras do autor (tradução minha do original em
inglês):
“Examinando
o registro das pesquisas passadas do ponto de vista vantajoso da
historiografia contemporânea, o historiador da ciência pode se
sentir tentado a dizer que quando o paradigma muda, o mundo muda
junto. Inspirados pelo novo paradigma, cientistas adotam novos
instrumentos e olham em novos lugares. Ainda mais importante, durante
as revoluções os cientistas enxergam coisas novas e diferentes
quando usando instrumentos familiares em lugares que já examinaram
antes. É como se a comunidade científica tivesse sido subitamente
transportada para outro planeta onde objetos familiares são vistos
sob uma nova luz; e a eles se juntam novos objetos nunca antes
vistos.”
O Círculo de Kuhn
Fonte
da imagem (traduzida para o português):
http://plantandoconsciencia.org/novoblog/2014/11/19/manifesto-ciencia-pos-materialista/
Exemplos famosos de revoluções científicas incluem a revolução Copernicana, que derrubou o modelo que propunha a Terra no centro do universo, a evolução Darwiniana e mais recentemente a relatividade e a física quântica. Nenhum desses modelos foi aceito rapidamente, nem foi adotado sem que houvesse imensa resistência contrária exercida por cientistas de prestígio e poder em suas respectivas épocas. Mas como o modelo propõe ciclos, é de se esperar que hajam evidências contrárias ao modelo atualmente adotado. É também predizível pelo modelo de Kuhn que evidências contrárias serão novamente rejeitadas como sendo erro, falha ou mesmo fraude. E como em todas as épocas, de fato há erros e fraudes, que precisam ser distinguidos dos dados e resultados verídicos e confiáveis. Assim a tensão vai crescendo e o confronto de paradigmas se aproximando.
Pois
na edição de Setembro-Outubro de 2014 da revista científica
Explore:
The Journal of Science and Healing oito
cientistas de diversas áreas publicaram o Manifesto
pela Ciência Pós-Materialista.
Os autores são Mario
Beauregard (neurocientista,
trabalha no Laboratory for Advances in Consciousness and Health,
Department of Psychology, University of Arizona, Tucson, USA), Gary
E. Schwartz (Professor
de psicologia, medicina, psiquiaria e cirurgia e chefe do Laboratory
for Advances in Consciousness and Health, Department of Psychology,
University of Arizona, Tucson, USA), Lisa
Miller (Psicóloga
clínica, Professora na Columbia University, USA), Larry
Dossey (Médico
e escritor), Alexander
Moreira-Almeida (Psiquiatra,
professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil), Marilyn
Schlitz (Psicóloga,
diretora de pesquisa no Institute of Noetic Sciences), Rupert
Sheldrake (Biólogo,
escritor e historiador da ciência, autor de vários best-sellers) e
Charles
Tart (Psicólogo,
estudioso dos estados alterados de consciência, professor no
Institute of Transpersonal Psychology, USA).
No
começo do Manifesto,
eles
afirmam o seguinte (tradução minha do original em inglês):
“Desde
seu surgimento, a ciência tem continuamente evoluído por uma razão
fundamental: a acumulação de evidências empíricas que não podem
ser acomodadas em visões enrijecidas. Por vezes as mudanças são
pequenas, mas em alguns casos são titânicas, como na revolução
relativística-quântica nas primeiras décadas do século 20. Muitos
cientistas acreditam que uma transição similar seja agora
necessária, porque o foco materialista que dominou a ciência
moderna não pode acomodar um conjunto crescente de evidências
empíricas no domínio da consciência e espiritualidade”
.
O
Manifesto
foi
publicado online em Julho de 2014, aberto para assinaturas e já
conta com mais de 50 adesões. Trata-se de um chamado claro para que
a ciência não se deixe emperrar pelo dogmatismo que se formou em
torno do paradigma convencionalmente chamado de “materialismo
científico”. O Manifesto reconhece os tremendos avanços da
ciência materialista, mas admite que a dominância desta filosofia
nos meios acadêmicos e universitários chegou a ponto de ser
prejudicial, em especial ao estudo da consciência
e
da espiritualidade.
O materialismo se tornou tão dominante que estudos bem feitos nestas
áreas têm sido rejeitados para publicação não por reais falhas,
mas simplemente porque não se encaixam no modelo proposto pelo
materialismo. Como mostrou Thomas Kuhn, é a “ciência normal” de
um certo período rejeitando as evidências conflitantes com
argumentos de que tais evidências são fruto de erro ou fraude. Dado
que o valor das evidências é fundamental para o progresso
científico, o manifesto termina então por indicar uma nova
plataforma, aOpenSciences,
onde diversos artigos e livros sobre as evidências que desafiam o
materialismo científico podem ser acessadas.
De
acordo com o Manifesto, a Ciência
Pós-Materialista reconhece
que:
a.
A mente representa um aspecto da realidade tão primordial quanto o
mundo físico, isto é, ela não pode ser derivada da matéria nem
reduzida a algo mais simples.
b.
Há uma conexão profunda entre a mente e o mundo físico
c.
A mente (a intenção) pode influenciar o estado do mundo físico e
operar de maneira não-local (ou extendida). Isto é, a mente não
está confinada a pontos específicos do espaço, como cérebros e
corpos, ou pontos específicos do tempo, como o presente. Dado que a
mente pode influenciar o mundo físico de maneira não-local, as
intenções, emoções e desejos de um experimentador não podem ser
completamente isoladas dos resultados experimentais, mesmo em
situações controladas e desenhos experimentais “cegos”.
d.
Mentes são aparentemente ilimitadas e podem se unir, sugerindo uma
Mente Unitária que inclui todas as mentes individuais.
e.
Experiências de quase morte durante paradas cardíacas sugerem que o
cérebro atue como transdutor da atividade mental, isto é, a mente
pode trabalhar através do cérebro, mas não é produzida por ele.
As experiências de quase morte durante paradas cardíacas, junto a
evidências de pesquisa em mediunidade sugerem a sobrevivência da
consciência após a morte do corpo e a existência de níveis de
realidade não-físicos.
f. Cientistas não devem temer a investigação da espiritualidade e das experiências espirituais dado que elas representam um aspecto central da existência humana.”
A
ciência Pós Materialista, portanto, não rejeita os avanços do
materialismo científico e considera a matéria como uma das partes
fundamentais da existência. A Ciência Pós-Materialista busca
expandir a capacidade humana para melhor entender as maravilhas da
natureza e redescrobrir a importância da mente e do espírito como
partes fundamentais do universo. O Pós-materialismo é, portanto,
“inclusivo
com a matéria, que é vista como um constituinte básico do
universo”.
O
resgate da mente e da espiritualidade nos traz liberdade e nos
reconecta com uma visão mais ampla do que é ser humano e de como
atuar nesse mundo. A conclusão do manifesto é que
“ao enfatizar uma conexão profunda entre nós mesmos e a natureza como um todo, o paradigma pós-materialista promove uma consciência ambiental e a preservação da biosfera. Além disso, não é novo, mas apenas foi esquecido por cerca de 400 anos, que um entendimento transmaterial pode ser a peça fundamental da saúde e bem estar, como reconhecido e preservado em práticas espirituais ancestrais, tradições religiosas e abordagens contemplativas. A mudança da ciência materialista para a pós-materialista pode ser de vital importância para a evolução da civilização humana. Pode ser ainda mais vital que a transição do geocentrismo para o heliocentrismo”.
Como
expressou o matemático Dave Pruett, que foi pesquisador da NASA e
Professor Emérito na James Madison University, em artigo
no
jornal britânico Huffington Post, “A
ciência atinge seu melhor quando está aberta para os fatos
incômodos e contraditórios. Mas ela atinge seu pior quando,
restrita por dogmas, ignora estes fatos.”
Para
acessar o artigo do manifesto, em inglês, é só acessar o
link: http://www.explorejournal.com/article/S1550-8307(14)00116-5/fulltext
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